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Socialismo no horizonte. Não no retrovisor.

29 set

Não, não concordo com a campanha imunda de desconstrução da candidatura de Dilma Rousseff, promovida pela grande mídia.

Isso posto, devo dizer que vejo com certo espanto comentários vindos das fileiras petistas acerca da participação de Plínio de Arruda Sampaio nos debates entre candidatos à presidência da república. Afirmam que, ao criticar o governo Lula e a candidata Dilma, Plínio ajuda a direita (o PSDB de Serra e o PV de Marina) a realizar o seu trabalho sujo, de ataques reacionários.

Avaliação injusta. A burguesia brasileira possui comportamento primitivo extremo, a ponto de não saber o que é melhor para si mesma. Apega-se a um símbolo mofado, o Lula barbudo e socialista de 1989, para vomitar discurso reacionário. O Partido dos Trabalhadores e Lula honram, para além de qualquer dúvida, todos os compromissos assumidos com o grande capital. Os juros permanecem elevados, a reforma agrária não foi feita, nossa carga tributária continua cruelmente regressiva, o Sistema Único de Saúde não é prestigiado como deveria e pouco se avançou, inclusive, em pautas injustamente qualificadas de “laterais” – como a regulamentação da união civil homoafetiva e a descriminalização da interrupção da gravidez.

Ora, é inegável que tivemos avanços. Quem tem fome, tem pressa. Perdoem-me a frase feita, mas, disso, não há dúvida. Os programas de distribuição de renda patrocinados pelo governo contribuíram para mitigar quadros de extrema pobreza, nos bolsões mais miseráveis do país. Além disso, numa abordagem estritamente liberal, o estímulo ao consumo, com o protagonismo das tais classes C, D e E, é um motor virtuoso para o crescimento do Brasil. Mais consumo, mais produção, mais empregos, aumento da massa salarial e melhora da qualidade de vida. Isso foi obtido no governo Lula, sem dúvida – ainda que numa escala limitada. A miséria ainda persiste, as favelas estão aí, o desafio do saneamento básico não foi vencido. Trata-se, enfim, do meio de caminho no processo civilizatório de nosso capitalismo. Não tenho dúvida de que mais um mandato do Partido dos Trabalhadores no governo federal fará algum bem ao país.

Os sucessivos escândalos de corrupção devem ser postos em seu devido lugar. Houve um equívoco fundamental do PT quando este resolveu se escorar exclusivamente na bandeira da “ética na política”, colocando de lado seus ideais de esquerda e as necessárias reformas estruturais. Perdoem-me a expressão mas, muitas vezes, governar é “enfiar a mão na merda”. Não, não defendo a corrupção. Acredito no seu combate incansável. Mas tal combate deve ser realizado juntamente de um projeto mais amplo de reforma social, rumo ao socialismo. A onda vermelha, que levou Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo nas eleições municipais do ano 2000, tinha pouco de vermelha – e socialista – e muito de branca – a pureza do militante paladino da moralidade pública. Governar curvado ao capitalismo, em especial neste nosso modelo ainda pouco civilizado, é sujeitar-se ao risco cotidiano das ofertas de corrupção. As regras do jogo impõem e o PT, seja através de militantes isolados, seja através de sua cúpula, decidiu jogar de acordo com as regras. O fisiologismo, o rebaixamento programático, a partilha de cargos, a compra de apoios e o “presidencialismo de coalização” (Paciornik, S. D.) contribuíram, decisivamente, para que o PT abraçasse a mesmice do jogo político-eleitoral – inclusive no tocante à corrupção.

Todos esses fatos vêm de longa data e não são exclusivos do PT. O governo Fernando Henrique Cardoso também teve um longo rosário de casos de corrupção. Contou, porém, com a conivência de Geraldo Brindeiro – “engavetador-geral da União” –, com uma Polícia Federal pouco atuante e, o mais importante, a docilidade da mídia. As famílias Frias, Civita, Mesquita e Marinho não demonstraram, para com o “príncipe da sociologia”, a mesma disposição investigativa que possuem para com o “sapo barbudo”. Escândalo por escândalo, outros fatos me impressionam ainda mais. O “Partido da ‘Social-Democracia’ Brasileira”, por exemplo, foi protagonista do maior projeto de desmonte do estado brasileiro em todos os tempos. E o “Partido da Frente Liberal (vulgo Democratas)” possui quadros que fizeram parte da Aliança Renovadora Nacional – partido de suporte à ditadura militar. Essa última crítica, aliás, é até amena: procure pelas propostas de Ricardo Salles (25.200) na internet. Veja o que a “nova” direita promete, na figura desse candidato à Assembléia Legislativa de São Paulo. Você vai descobrir que alguns integrantes da ARENA talvez até tivessem certo traquejo democrático…

Voltando ao ponto: as ataques a Plínio de Arruda Sampaio e ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) são absolutamente injustos. Não fazemos o trabalho sujo da direita. Estamos interessados, antes, no trabalho que cabe à esquerda socialista: criticar a falta de avanços estruturais e reformas verdadeiramente transformadoras nesses 8 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Não vamos à televisão criticar o fortalecimento da Petrobrás, a defesa de Cuba, a gestão de José Gomes Temporão no Ministério da Saúde (ainda que seja passível de críticas) ou o Plano Nacional de Direitos Humanos.

Quando criticamos os escândalos palacianos, cobramos coerência de um partido que construiu bandeiras de luta em torno da ética na política. Além disso, nossas cobranças e críticas, referenciadas em nosso programa de atuação política, dizem respeito a uma série de ideais e projetos muito caros à esquerda socialista brasileira:

  • A realização de uma reforma agrária radical,
  • O investimento de 10% do PIB em educação (sempre pública),
  • Distribuição de renda que não se restrinja às muitas bolsas distribuídas pelo governo federal,
  • O estabelecimento de um sistema tributário fortemente progressivo, com taxação de grandes fortunas,
  • Grandes investimentos em ciência e tecnologia – para que superemos, de vez, o pacto colonial,
  • O combate à especulação imobiliária, com a adoção de IPTU fortemente progressivo,
  • Auditoria da dívida pública,
  • Fortes investimentos no Sistema Único de Saúde,
  • Investimentos massivos em saneamento básico,
  • Regulamentação da união civil homoafetiva,
  • Descriminalização do aborto,
  • Fim da perseguição aos movimentos sociais,
  • E por aí vai.

Defendemos um conjunto de reformas radicais. Essas reformas são o primeiro passo para que, pela via democrática, com ampla participação popular, possamos iniciar uma trajetória decisiva rumo ao socialismo. Isso deve ficar muito claro: o PSOL tem a construção do socialismo como meta. Não se trata de bandeira fora de moda nem de ideal relegado a um “passado de luta”. Quando criticamos a administração Lula e o Partido dos Trabalhadores, o fazemos porque não acreditamos na bandeira de um capitalismo de ar mais respirável. O capitalismo lavra na desigualdade, na concentração de renda, na exclusão, no preconceito, na destruição do meio-ambiente e, de forma geral, no medo. Um maior acesso a bens de consumo, embora desejável, não significa um único passo rumo ao socialismo.

Por essas e por outras, eu voto assim:

  • Presidente: Plínio de Arruda Sampaio, PSOL, 50;
  • Governador: Paulo Búfalo, PSOL, 50;
  • Senador: Marcelo Henrique, PSOL, 500;
  • Deputado Federal: Ivan Valente, PSOL, 5050;
  • Deputado Estadual: Eduardo Amaral, PSOL, 50740.

Tunico.
P.S.: Como puderam notar, eu não falo da candidatura Marina Silva. Sempre que penso nessa coisa de Partido Verde, me lembro de uma propaganda ótima, de uma instituição de caridade. Um mendigo, puxando uma carrocinha, parava numa calçada e começava a vestir uma fantasia de cachorro. Fantasia vestida, começava a pedir esmolas. E terminava com o locutor dizendo: “porque ajudar os animaizinhos é mais fácil, né?” Como eu acho muito óbvio que fica difícil preservar um jacarandá quando não se tem disposição de ajudar um menino de rua, vou me abster de considerar a existência política da Marina.

A defesa efetiva do meio-ambiente é pauta cara ao socialismo, não um elemento para “agregar valor à marca”. Defendemos as florestas tropicais, os mananciais, o cerrado, a caatinga e todas aquelas outras coisas “chatas” que vêm junto com eles: as populações locais.